Vila Meã, uma vila a visitar

Vila Meã, uma vila a visitar

A diversidade no concelho de Amarante é muita e pode ser vivida em contextos variados – desde a gastronomia, à literatura, às artes ou à cultura. A 12 quilómetros da sede do Município fica Vila Meã, que vale a pena conhecer.

As referências históricas, culturais e de património de Vila Meã ultrapassam o que hoje são os seus limites, mas, por agora, vamos ficar por algumas das histórias e espaços a não perder numa visita a Vila Meã, que, hoje, agrega três freguesias: Real, Ataíde e Oliveira.

Situada na zona ocidental do Município de Amarante, Vila Meã é, depois da cidade, o seu segundo maior núcleo urbano, tendo sido sede do Concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, constituído em 1513 e extinto em 1855.

Os antigos Paços do Concelho albergam, hoje, a extensão da Biblioteca Municipal Albano Sardoeira que, para além de salas de leitura, oferece um auditório para eventos culturais. Nas proximidades do edifício é possível encontrar o Pelourinho de Santa Cruz de Riba Tâmega.

O edifício merece uma visita, tal como a Igreja do Salvador de Real, integrada na Rota do Românico. O templo foi edificado no primeiro quartel do século XIV, situando-se na categoria de românico tardio.

Vila Meã mantém, hoje, toda sua a proximidade a duas das freguesias que integravam aquele concelho, Mancelos e Travanca, desde logo em termos geográficos mas, sobretudo, enquanto referentes culturais. Por um lado, Amadeo de Souza-Cardoso (com casa em Manhufe, Mancelos) e Acácio Lino (Travanca), dois vultos grandes das artes; e, por outro, por nelas se situarem, respetivamente, dois mais importantes exemplares do românico de Amarante: o Mosteiro de S. Salvador de Travanca e o Mosteiro de São Martinho de Mancelos, ambos integrados na Rota do Românico.

De Vila Meã nenhum visitante ficará indiferente, por exemplo, à muito conhecida e reputada qualidade dos vinhos produzidos nas margens do rio Odres. Terra de solos férteis, facilmente se compreende que o seu povoamento tenha origens remotas, provavelmente numa “villa” agrária primitiva da época romana, como o comprova a existência de uma necrópole do século IV, descoberta em 1955, durante a construção do Bairro Brasil.

A povoação foi crescendo em torno deste núcleo primitivo e, a partir de finais do século XVIII, estendeu-se ao longo da estrada pombalina (que do Porto se dirigia à Régua) absorvendo lugares periféricos. A sua localização, o pequeno comércio, as hospedarias e a realização de feiras quinzenais fizeram de Vila Meã um pólo de atração para as populações vizinhas.

E, além dos mimos oferecidos pela natureza, Vila Meã deslumbra por ser o berço de notáveis figuras das artes e das letras. Foi ali, afinal de contas, que nasceu Agustina Bessa-Luís, na Rua Dr. Joaquim da Silva Cunha – a escassos metros do pelourinho de Santa Cruz. Nome maior do panorama literário nacional, a escritora viveu dois anos na casa que ainda hoje continua altiva.

Mas Vila Meã surpreende, igualmente, por uma outra personagem popular portuguesa, que deixou a sua marca na vila, tão singulares são as histórias que lhe estão associadas. É o caso de José Teixeira da Silva, nascido em 1806, na freguesia de Castelões (Penafiel), que ficaria conhecido conhecido como “Zé do Telhado”. Com uma vasta experiência militar e distinguido por uma postura destemida, viria a integrar uma revolta popular contra o governo anticlerical de Costa Cabral, durante a Revolução da Maria da Fonte.

Derrotada a sublevação, Costa Cabral, que declara vitória na Convenção de Gramido. Mas José do Telhado, ao lado do povo de Vila Meã, não desiste mesmo após aquela convenção. O chefe do governo não tolera os abusos e elege a principal vítima: Zé do Telhado, a quem foram confiscados os bens pessoais. Para José, as dificuldades financeiras começavam a chegar em força e o soldado passa a dedicar-se a outra “arte”: à de assaltar, roubando aos ricos para dar aos pobres. Herói para uns, vilão para outros, este Robin dos Bosques português terá iniciado a sua atividade de assaltante, com os seus cúmplices, no Alto das Cruzes, muito próximo da Igreja Matriz de Real.

Opinião unânime tem o povo vilameanense em relação a outra figura de referência na região. Natural de Real, Raimundo Magalhães era visto como exemplo do bem e da generosidade. Embarcou ainda muito jovem para o Brasil. Lá, na Bahia, Raimundo tornou-se grande. Fundou a Sá Ferreira & Magalhães – em sociedade com Domingos de Sá Ferreira –, que viria a tornar- se na maior firma do Brasil na produção e venda de açúcar. Raimundo acumulara uma vasta fortuna, que usaria em prol do crescimento de Vila Meã, terra que nunca lhe saíra do coração.

Para o progresso local, deixou diferentes obras e doações entre as quais o apoio que deu e que permitiu o nascimento da Associação de Beneficência de Vila Meã, que tinha como objetivo trazer mais cultura e estruturas de apoio social aos mais desfavorecidos. Assim foi. O destaque está na inauguração do centro cívico e Cineteatro Raimundo Magalhaes. Raimundo criou um espírito de comunidade que se arrastaria pelas gerações futuras.

A construção da Linha Férrea do Douro, que criou estação própria, em Vila Meã, ofereceu um meio de transporte rápido e económico, que facilitou aos habitantes um contacto mais frequente com o resto do país, nomeadamente com a cidade do Porto, permitindo a fixação de população e de atividades económicas.

Quer seja pela vertente histórica e cultural, quer pelo dinamismo económico ou até pelo bairrismo dos vilameanenses, Vila Meã tem um peso significativo no todo que é o Município de Amarante, prometendo deixar saudade a quem por lá passar.