O período romano em Amarante

O período romano em Amarante

Amarante é uma região fértil em achados arqueológicos. Os vestígios que remontam ao período romano, em particular, enriquecem a história do concelho nortenho. Em jeito de curiosidade, pode até pensar-se na origem do nome “Amarante”, que – segundo a tese mais defendida – resulta da proximidade da região com a Serra do Marão. Localiza-se “Antes do Marão”. Em latim, “Ante Maronis”. Não se descarta, contudo, a ideia que relaciona o nome com o centurião romano Amarantus, tido – diz a lenda – como o fundador da cidade.

Uma visita a Amarante com interesse em reviver o período romano far-vos-á ir ao Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso e a algumas freguesias como, por exemplo: Vila Caiz, Gondar, Vila Chã do Marão, Sanche, Lomba e Salvador.

A maior prova de influência romana no concelho está no chão que pisamos pelos caminhos de Amarante – a via romana. Muitas foram as transformações que o território sofreu, em campos e em cidades. Nas zonas mais agrícolas erguiam-se as chamadas “villae” – “Vilas”, na Roma Antiga. No fundo, e muito sucintamente, eram o maior complexo de exploração agrícola que o império romano conhecia.

Ora, a ocupação romana foi, a este respeito, bem notória em Amarante. É que, também no concelho, no lugar de Vilarinho – Freguesia de Vila Caiz –, houve, entre os séculos II e IV, a dita “villa”. Era, efetivamente, uma zona bem irrigada e de forte declive sobre o rio Tâmega. A presença de pequenas linhas de água, de algumas nascentes e a exposição solar favorável garantiam, pois, excelentes condições para o cultivo de vinha, de oliveira e de produtos hortícolas; enfim, para a prática da agricultura.

Mas, se a dimensão agrícola – a “pars rústica” – era um pilar das “villae”, a “pars” urbana não era menos importante. Esta era a zona habitacional, onde se instalavam as residências dos proprietários. E, também em Amarante, se deixaram vestígios destes locais. Quando, em 1908, se construía o apeadeiro de Vila Caiz, atualmente desativado, descobriu-se um habitat romano. Uma residência, em bom rigor. Umas escadas em pedra, um cunhal e até uma lareira estiveram entre os achados mais preciosos.

Mais interessante ainda serão os vestígios que denunciam a existência de necrópoles. Eram cemitérios de grandes dimensões. Aliás, no período romano, as necrópoles eram, muitas vezes, verdadeiras cidades funerárias montadas no exterior dos povoados para sepultar os moradores. Estes “arqueossítios” são encontrados, sobretudo, durante a abertura de valas, em ações de construção. Ao longo dos anos, em Amarante, foram identificados diversos. Tem-se o exemplo de Tubirei, no lugar de Gondar. Atualmente ocupado por pinheiros, naquele local ter-se-á levantado uma necrópole cujo espólio podemos conhecer no Museu Municipal de Amadeo de Souza-Cardoso.

Entre os artefactos achados estão, por exemplo, 74 pregos – assume-se terem sido usados em enterramentos – e 24 vasos de cerâmica, usados, pressupõe-se, para o depósito de cinzas ou de ossos queimados, quando o ritual fúnebre envolvia a incineração. Descobertas semelhantes foram feitas na necrópole de Ataúdes, lugar onde se encontrou uma planta circular – a denunciar ritos por incineração – e espólio de tipologia cerâmica: travessas, copos ou bilhas.

Os lagares também merecem destaque, já que, espalhados pelo concelho amarantino, há alguns exemplares deste tipo. Um lagar é, no fundo, um tanque ao qual outros aparelhos se adaptam para espremer uvas ou azeitonas. A ideia seria obter vinho ou azeite. O Lagar do Tapado – em Gondar –, por exemplo, instala-se num afloramento granítico onde há covas de relativa profundidade, que sugerem, pois, terem servido para sustentar o aparelho.

Por fim, mas não menos relevante face à riqueza que o período romano deixou, estão as vias que, ainda hoje, servem a população. A deslocação era, também para os romanos, estratégia fulcral de sobrevivência. O povo melhorava caminhos, facilitava a circulação, transportava mercadorias. Muitas destas vias mantiveram-se ativas e a do Marancinho é digna de referência especial, por atravessar três freguesias de Amarante (Gondar, Vila Chã do Marão e Sanche). Ainda é possível observar os blocos de pedra que ladeiam a rota e mesmo os troços que faziam parte da zona de circulação.

Diversos são os locais e vestígios que transportam o concelho de Amarante para o período romano. E uma parte daquele património, recorde-se, pode ser vista no museu municipal, numa visita que oferece uma boa dose de história e de cultura.