Amadeo de Souza-Cardoso
Amadeo de Souza-Cardoso
Audaz e desassossegado. É assim que pode descrever-se Amadeo de Souza-Cardoso. Modernista por natureza, não seguia padrões sociais nem escolas de pensamento. Dizia ser de tudo um pouco, usando, nas suas obras, referências a estilos tão diversos como o impressionismo, o cubismo ou o abstracionismo. Estes traços de vanguardismo marcaram o trabalho do pintor, que não receou pôr em causa toda a estética cultural vigente à época em que viveu. Uma parte da obra de Amadeo de Souza-Cardoso pode, hoje, ser visitada no Museu Municipal de Amarante, que tem o seu nome.
Pouco se sabe sobre a infância do ícone do Modernismo em Portugal. Mas há uma certeza. Amadeo de Souza-Cardoso, nascido em 1887 no lugar de Manhufe, não se dava a padrões rígidos nem a convenções: tinha o espírito inquieto e queria viver em busca do novo. Era audaz e voraz; um ser de vanguardismo.
Terminou os estudos liceais em 1905. Tinha 18 anos. No ano seguinte, parte para Paris. A ideia era fazer um curso de arquitetura. Mas havia outra vocação, muito mais forte e prevalente: a pintura. O impulso para o desenho – para a caricatura, em particular – foi sempre tentador. E este seria, pois, o destino de Amadeo.
Na capital das luzes, contacta com grandes artistas da época; com aqueles que desafiavam os cânones da arte ocidental. Conhece, por exemplo, Anglada Camarasa, Brancusi e, ironicamente, outro Amadeo: Modigliani. Souza-Cardoso, mergulhado nas tendências modernistas de então, rejeita as abordagens em vigor e desenvolve uma linguagem diferente: disruptiva. Para tal, a experimentação era constante. As obras revelavam tentativas que iam do pontilhismo ao orfismo, passando pelo expressionismo e pelo cubismo.
O trabalho era muito. O pintor expõe obras no Salon des Indépendents (1911) e no Salon d’Automne (1912) e faz o mesmo na primeira mostra de arte moderna nos Estados Unidos da América. Melhor seria mesmo dizer que Amadeo expôs e expôs-se.
Em 1914, devido à Primeira Grande Guerra, regressa à terra-natal, em Amarante, com Lúcia Pecetto, com quem viria a casar no mesmo ano. O exílio, para Amadeo, representou uma oportunidade para dar largas à sua criatividade. No atelier de Manhufe – que hoje pode ser visitado – pintava todos os dias. As composições passariam, ali, a ter colagens – espelhos ou ganchos de cabelo, por exemplo. E todas as novas tendências, desde o expressionismo ao abstracionismo, também faziam parte das obras. Para Souza-Cardoso, não havia escolas. O artista dizia ser de tudo um pouco.
As obras de Amadeo de Souza-Cardoso punham em causa toda a paisagem cultural em vigor em Portugal. As duas exposições que apresentou ao país – uma no Porto, outra em Lisboa – representaram, para o público, um verdadeiro escândalo, culminando, no caso da primeira, em agressões físicas.
Em 1918, morre depois de contrair a gripe espanhola. Nem sempre o génio foi compreendido pela sociedade portuguesa de então. Mas é garantido que Amadeo, entre Paris e Portugal, sagrou-se dono de um património artístico que seduz e uma figura de referência na história do modernismo. A obra é vasta e parte dela pode ser vista no Museu Municipal de Amarante – um espaço de referência para a cultura nacional.