Os Diabos de Amarante

Os Diabos de Amarante

No interior do belo Convento de São Gonçalo, havia um casal de chifrudos. Eram os diabos de Amarante. Lado a lado com os anjos e santos daquele convento, os mafarricos – mesmo com os caracteres sexuais expostos e pouco ou nada tendo de sagrado – conquistaram a estima de monges e do povo.

Ninguém sabe de onde vieram – acredita-se que das longínquas terras da Índia. Sabe-se apenas que viveram anos largos no convento, até que estalaram as invasões francesas na região. Em 1809, durante os ataques napoleónicos, os adorados diabos foram queimados.

Findam os conflitos e o desgosto coletivo leva o povo amarantino a pedir ao artífice António Ferreira de Carvalho que recrie aquele casal das trevas. A réplica saiu perfeita e valeu ao artesão a alcunha de “Ferreira dos Diabos”.

Mas a vida dos mafarricos não seria fácil. Em 1870, o Arcebispo de Braga, D. José Joaquim de Moura decide acabar com a presença das figuras em lugar tão sagrado e manda queimar as estátuas. Mas o prior do convento limita-se a retirar-lhes as conotações sexuais. Em bom português, capa o diabo e mutila a diaba. O pior, porém, ainda estava para vir.

Alberto Sandeman, inglês de muitas posses, compra as “divindades” de Amarante – depois de um autêntico braço de ferro contra oposições internas – e leva o casal endiabrado para Londres. Amarante não se conformou e o povo da região não arredava pé enquanto não recuperasse o diabo e a diaba.

Eventualmente, Lago Cerqueira, então Ministro dos Negócios Estrangeiros, terá conseguido que Sandeman devolvesse as figuras à terra onde nasceram. “Aí vêm os diabos! Lá vêm eles”! O regresso dos monarcas das trevas foi festejado com pompa e circunstância e arrastou-se pela noite dentro. Na região, fazia-se história. É que, ainda nos dias que correm, a 24 de agosto – data em que o diabo anda na rua.

Hoje, podem ser visitadas no Museu Municipal de Amadeo de Souza-Cardoso e enriquecem o património cultural de Amarante.