As invasões francesas em Amarante

A memória das invasões francesas mantém-se viva em Amarante. Mais de 200 anos depois, os seus sinais são visíveis e encontram-se, por exemplo, nas telas perfuradas por baionetas na sacristia da igreja de São Gonçalo, na fachada do edifício – marcada a balas de canhão – ou nas pirâmides danificadas da ponte de São Gonçalo. Estes são, hoje, espaços de visita obrigatória para qualquer turista que queira vivenciar as experiências que a oferta histórica e cultural do concelho oferece.

Visite Amarante e descubra estes e outros espaços que continuam a marcar a memória coletiva local, referente a este período da história do Município.

A ponte de S. Gonçalo, em particular, viria a ser o grande palco dos acontecimentos, onde teve lugar aquele que ficaria conhecido nas páginas da história como o episódio da “heroica defesa da ponte de Amarante”. Os factos contam-se em breves parágrafos.

De um lado, havia as forças nacionais e inglesas, colocadas sob o comando direto do general William Beresford, que fora enviado pela Grã-Bretanha para reorganizar o exército português (no âmbito de uma aliança anglo-portuguesa). Do outro lado estavam as tropas napoleónicas. Entre as forças lusas, importa destacar o Comando de Armas de Trás-os-Montes, do Brigadeiro Silveira. Homem de intuição notável, dirigiu a defesa da ponte com bravura, tendo, hoje, em jeito de agradecimento, uma das Avenidas da cidade de Amarante com o seu nome.

Do lado francês, Napoleão Bonaparte deixara instruções claras. Soult, comandante do Segundo Corpo de Exército, teria de invadir Portugal a partir da Galiza e ocupar o Porto, para, depois, marchar até Lisboa pela faixa litoral do país. Chegar a Lisboa por esta via oferecia uma vantagem: o terreno era plano e facilitava a marcha.

Beresford ordenara, entretanto, que Silveira assegurasse o controlo de todas as passagens sobre o Rio Tâmega – entre as quais a ponte de Amarante. Assim foi. A ofensiva estava montada: uma trincheira, uma paliçada, três baterias de artilharia e seis mil homens – muitos deles civis e clérigos sem qualquer instrução – apoiados por algumas bocas de fogo.

Inquieto, Soult envia uma coluna de exército reforçada para a região, sob o comando de Loison, general a quem caberia a missão de eliminar as forças de Silveira. O foco estava em atravessar o rio Tâmega com rapidez. Mas Loison não contava com o desgaste que as tropas anglo-lusas viriam a provocar.

A luta foi violenta. A 18 de abril de 1809, o exército francês entrou em Amarante. Vindas de Penafiel passando por Vila Meã, Manhufe e Pidre, as tropas de Loison tentariam, frustrada e repetidamente, romper a passagem pela ponte e acabaram por fazer do Convento de São Gonçalo o seu quartel-general.

As forças portuguesas resistiam, ao mesmo tempo que causavam pesadas baixas ao exército francês. Foram 14 os dias em que o contingente nacional, com o seu posto comando instalado no Lugar do Calvário nos limites exteriores do atual Hotel Casa da Calçada Relais & Chateaux, impediu a travessia do exército napoleónico. Ainda hoje é possível encontrar vestígios da destruição dos franceses no Solar de Magalhães e no Convento de Santa Clara, atual Biblioteca Municipal Albano Sardoeira.

Mas a reviravolta viria a chegar. Aproveitando o nevoeiro cerrado da madrugada do dia 2 de maio, as tropas invasoras de Napoleão foram colocando, na Ponte de São Gonçalo, junto do entrincheiramento português, barris de pólvora que viriam a detonar. O rebentamento foi suficiente para permitir o avanço de Loison e obrigar à retirada das forças de Silveira. Mas Napoleão perdera. Ao Brigadeiro Silveira, heroico defensor da ponte amarantina, foi atribuído o título de conde de Amarante. E a vila, ainda hoje, ostenta o orgulho da resistência, por ter sido condecorada com a Ordem da Torre e Espada, presente no brasão.

O Brigadeiro Silveira manobrara e reorganizara a força militar de que ainda dispunha para forçar Loison a abandonar Amarante e, imediatamente, recuperar o concelho. Um ataque de três eixos permitiu que Portugal recuperasse o fôlego e lançasse uma autêntica perseguição às tropas francesas, agora em fuga. Loison ficaria encurralado. Para os franceses, o mal já estava provocado. Nos 14 dias de luta, o exército nacional imobilizou praticamente metade da ofensiva napoleónica.

A tomada da ponte pelos franceses foi engenhosa. Mas em nada diminuiu o valor da resistência nacional. França perdera. Ao Brigadeiro Silveira, heroico defensor da ponte amarantina, foi atribuído o título de conde de Amarante. E a vila, ainda hoje, ostenta o orgulho da resistência, por ter sido condecorada com a Ordem da Torre e Espada, presente no brasão.