Turismo religioso em Amarante: as igrejas de S. Pedro e de Nosso Senhor dos Aflitos
Nicolau Ribeiro
Monumento Nacional desde 1910 e com mais de 500 anos de existência, a Igreja do Convento de S. Gonçalo está a passar por um processo de recuperação e restauro que, dada sua abrangência, se prolongará até ao início de 2022.
Até lá, aquele que é considerado o templo-âncora do turismo religioso no norte de Portugal, e que recebia mais de 60 mil visitantes por ano, vai estar fechado a atos litúrgicos e a turistas.
Porém, quem tem Amarante como referência na área do Turismo Religioso continua a ter fortes motivos para se deslocar à cidade e visitar outros dois templos que, embora de menores dimensões, se impõem, igualmente, pela riqueza do seu património artístico.
Falamos das igrejas de S. Pedro e de Nosso Senhor dos Aflitos, ambas recuperadas no passado recente: a primeira, com a respetiva intervenção finalizada em 2015 e a segunda em 2011.
A Igreja de S. Pedro
A igreja de São Pedro situa-se no Largo com o mesmo nome e destaca-se na malha urbana não apenas pelo seu relativo isolamento mas, principalmente, pela verticalidade da sua fachada-torre, rematada por coruchéu e pela cruz da teara papal, que evoca o primeiro papa, a quem o templo é dedicado.
No lugar onde está construída, ergueu-se, anteriormente, a capela de São Martinho, propriedade da Misericórdia de Amarante. Terá sido destruída para dar lugar ao templo atual, edificado, muito possivelmente, no decorrer do século XVII. O teto de alfarge da sacristia parece ser o seu elemento mais antigo, mas há notícia de um contrato para o douramento dos retábulos colaterais e outros elementos de talha em 1687, ano em que a igreja já estaria concluída.
No interior da igreja, de nave única, merecem especial referência os elementos de talha dourada que, apesar de contidos, extravasam os altares para revestir o arco triunfal, encontrando-se ainda presentes nas sanefas das janelas e púlpitos. O corpo do templo é percorrido por um silhar de azulejos de padrão seiscentista, amarelo e azul, e a abóbada de berço apresenta pinturas de motivos neoclássicos. Já na capela-mor, o teto apresenta vinte e cinco caixotões e os vãos exibem uma moldura de talha dourada.
A Igreja de Nosso Senhor dos Aflitos
Junto à igreja de São Gonçalo, situa-se um templo de pequenas dimensões dedicado a Nosso Senhor dos Aflitos. Contudo, a designação mais comum é a de Igreja de São Domingos, por ter sido fundado pela Venerável Ordem Terceira do Patriarca São Domingos.
Estava concluído em 1725 e a sua planimetria centralizada (circular com dois volumes laterais retos) revela um gosto barroco de tradição seiscentista. A fachada, que ocupa um dos volumes salientes e retangulares, é aberta por portal encimado por frontão triangular, interrompido pela janela superior. Remata o alçado um outro frontão triangular, com brasão no tímpano.
Nesta igreja, de reduzidas dimensões, observamos a preferência pela planimetria centralizada, cujo gosto, bastante difundido no nosso país, principalmente durante o século precedente, radica, em última análise, na devoção ao Santíssimo Sacramento. Esta foi aqui complementada pelo recurso aos inúmeros elementos de talha dourada, que, com o seu brilho, contribuíram para a desmaterialização e ampliação do espaço interno, num constante apelo aos sentidos, tão caro ao período barroco.
A Igreja do Senhor dos Aflitos alberga o Museu de Arte Sacra de Amarante, fundado em 1994 e ampliado em 1998. Distribuído por várias salas, guarda peças em pintura, escultura, paramentaria, alfaias litúrgicas e artes decorativas provenientes do vasto património da Paróquia de S. Gonçalo, das suas Igrejas, Ordens Religiosas e Irmandades.
Cada uma destas igrejas possui o seu órgão de tubos, ambos recuperados aquando das intervenções de restauro dos templos. Do da Igreja de S. Pedro não há certezas quanto ao seu autor, admitindo-se, porém, que possa ser obra do organeiro Manuel de Sá Couto (1758-1837), natural de Santo Tirso.
O órgão de tubos da Igreja de S. Domingos data de 1868 e foi construído por José Joaquim da Fonseca, organeiro com residência na cidade do Porto.
Refira-se que a Igreja de S. Pedro guarda um segundo órgão de tubos, designado de “Portativo de Procissão”. Portátil, tinha como função integrar as procissões. Tem data de construção do século XVIII e terá sido seu construtor o organeiro Luís António de Carvalho.
Se o leitor se interesse por Turismo Religioso, fica o nosso convite. Conheça as igrejas de S. Pedro e S. Domingos e visite o Museu de Arte Sacra de Amarante. E desfrute do mais que Amarante lhe pode dar.
Fontes
Direção Geral do Património Cultural (http://www.patrimoniocultural.gov.pt/)
“Igrejas de Amarante”, s/d, Amaro Gonçalo;
“A Igreja de S. Pedro”, 2012, Luís Coutinho Amaral.