“Sentar e ser” na Costa Grande, Amarante
A procura da experiência plena significa conhecer novos locais, novas experiências, mas também um encontro muito especial – com o “eu”.
Hoje, meditei durante 30 minutos, num dos meus locais preferidos para as actividades ao ar livre na minha terra: no Complexo Desportivo da Costa Grande.
Senti o ar a entrar pelas narinas, a passar pela garganta e os pulmões, à medida que se insuflavam, nutriram todas as minhas células. Senti-me viva.
Lá chegada, preparei o terreno, sabendo que o único elemento que ali estaria presente, sem ausência, seria o meu corpo; a minha mente iria viajar para outros tempos, lugares e pessoas. É assim que a mente humana funciona: saltita incessantemente, sem pedir nem avisar, entre o aqui e agora, o antes, o depois e a fantasia.
Estendi o tapete, dobrei o lenço em oito partes que me serviu de almofada e sentei-me de frente para o Tâmega. Ajustei-me à minha postura preferida – posição birmanesa – cruzando as pernas, joelhos a tocar o chão, costas e cabeça confortavelmente direitas, rosto descontraído, queixo ligeiramente inclinado para dentro, mãos a descansar nos joelhos e fechei os olhos. Trouxe a atenção para o corpo e inspirei profundamente (aquela inspiração pareceu ser a única coisa que, ali, estava a acontecer). Senti o ar a entrar pelas narinas, a passar pela garganta e os pulmões, à medida que se insuflavam, nutriram todas as minhas células. Senti-me viva.
Permaneci com a atenção na respiração, no seu ritmo natural, por 3 ciclos. Subitamente, destacou-se um pensamento: ‘Humm, pensar’, proferi em silêncio. Havia dado conta de que a minha mente havia saltado para uma experiência do passado (não sei durante quanto tempo) e, aceitando aquela viagem, sorri espontaneamente. ‘Sorrir’, proferi, tendo escolhido deixar-me de modo igual durante a prática. Seguiu-se uma comichão no nariz; nomeei a sensação e observei-a com abertura. Acabou por se dissipar.
Ao longo da prática, notei outras sensações físicas (ora agradáveis, ora desagradáveis, ora neutras), emoções (calma, impaciência e medo) e pensamentos (sobre tempos idos e vindouros). Notei a melodia da água do rio, dos pássaros, das pessoas a falar e a correr. E, a dança das folhas, nas árvores. Senti o toque suave da brisa no rosto, nas mãos e nos pés. A prática de meditação mindfulness (ou atenção plena) coloca-nos no papel de observador/a, como se estivéssemos sentados/as numa plateia, a contemplar um espetáculo maravilhoso – a vida.
Não ouvi o silêncio; na Costa Grande, creio nunca tê-lo notado, dada a sinfonia da natureza. Mais tarde, surgiu o som suave de uma taça tibetana a ressoar do telemóvel, sinalizando o fim da prática. Abri suavemente os olhos e senti calma (o que nem sempre acontece). Ainda sentada, ofereci pequenos movimentos ao pescoço, ombros, pernas e pés; os que eles estavam a pedir. Arrumei o lenço, calcei-me e, enquanto me levantava, fui transitando para o piloto automático.
Às duas por três, creio que aquando de pegar no tapete, dei por mim a pensar que a prática havia proporcionado um encontro inspirador: a dada altura notara medo a instalar-se no meu corpo. Tentei afastá-lo, mas agigantou-se pressionando o peito. Ao ganhar consciência daquela luta (comigo mesma!), ‘larguei a corda’ e voltei ao sorriso que se havia desvanecido (um sorriso sincero abre-nos o coração e ajuda-nos a relaxar). O peito começou a soltar-se. Continuei a dirigir a atenção para o medo, com interesse e curiosidade, tendo feito uma descoberta: ele precisara para lá de atenção, carecia de gentileza. Logo, passei a olhá-lo como se de uma criança se tratasse e o medo feneceu.
O mindfulness, que começa por um treino mental, é uma ferramenta poderosa: permite-nos espaço e consequentemente liberdade, para escolhermos o nosso comportamento. Ademais, conforme nos vamos familiarizando com a prática, que demanda regularidade, a consciência e o poder de escolha, estendem-se à vida quotidiana, aos/às outros/as e a tudo o que nos rodeia, possibilitando-nos viver a vida plenamente.
Amanhã voltarei a ‘sentar e ser’ nas Azenhas ou na Florestal, continuando este caminho libertador sem fim.
Se nunca experimentou mindfulness, permita-se uma breve pausa:
Comece por descontinuar a atividade em que se encontra,
sente-se,
e, se for confortável, feche os olhos.
Repouse a atenção na zona das narinas,
inspire e expire profundamente,
notando aí o ar entrar e a sair.
Permita-se este processo por mais 2 ou 3 ciclos de respiração,
no seu ritmo natural,
e note o seu estado interior.
Quando se sentir preparado/a,
abra os olhos suavemente.
Como foi esta experiência?
Gostaria de continuar a explorar o mindfulness?
Leia um livro, use uma app e não deixe contactar um/a instrutor/a com formação certificada na área.
Em Amarante o sonho é real ….
porque, aqui, tive a oportunidade de lançar um projecto de vida, com a intenção de promover às gentes da minha terra e a todas aquelas que nos queiram visitar, ferramentas para melhor lidarem com o próprio sofrimento e viverem a vida mais plenamente.
Estefânia Vasconcelos filha, neta e bisneta de Amarantinos, psicóloga de formação e praticante e instrutora de mindfulness. Fundadora de “Salas a ser” espaço que presta serviços nas áreas de psicologia e mindfulness.