Mosteiro de Travanca: fica em Amarante um dos melhores exemplares do Românico do Tâmega e Sousa

Nicolau Ribeiro

São muitos e diversificados os motivos que podem determinar uma visita a Amarante, onde se vem pela natureza (rios e serras) pela arte, pela gastronomia, pela História, pelo património religioso e arquitetónico.

E, nesta área, imperdível é conhecer o Mosteiro de Travanca, cuja Igreja foi, em 2010, integrada na Rota do Românico (para a qual, de resto, Amarante contribui com 13 monumentos), e que, entre 2013 e 2014, foi alvo de uma intervenção de melhoramento, nomeadamente na conservação de pavimentos, coberturas, escadas e mobiliário.

Todo o edificado do Mosteiro que vai para além da Igreja, da antessacristia e sacristia, deverá, também, a breve prazo, ser recuperado, no âmbito de um contrato de concessão promovido pelo Estado para a sua exploração para fins turístico, que prevê a construção de 60 quartos.

Imagem dos inícios do séc. XX do Mosteiro de S. Salvador de Travanca
Imagem dos inícios do séc. XX do Mosteiro de S. Salvador de Travanca

Fundado em meados do século XI por Garcia Moniz, o complexo arquitetónico do Mosteiro de Salvador de Travanca é considerado uma das mais significativas obras do Românico em toda a região do Tâmega e Sousa, estando o conjunto monástico (mosteiro, torre e igreja) classificado como Monumento Nacional desde janeiro de 1916.

Associado à linhagem dos Gascos, a que pertencia Egas Moniz, o aio de D. Afonso Henriques, o mosteiro constituiu um dos mais poderosos institutos monásticos da terra de Sousa durante a Idade Média.

O complexo carateriza-se por diversas particularidades, nomeadamente a igreja, fundada no séc. XIII, composta por três naves (um dos poucos exemplos em território nacional) e uma imponente torre defensiva, a primeira de duas que existem no concelho de Amarante (a segunda está em Freixo de Baixo).

Apesar da grande riqueza de espólio arquitetónico e artístico, tanto no interior como no exterior da igreja, a torre de Travanca (datada do séc. XIV) é o elemento que mais atenção tem captado entre os investigadores da arte românica. Evidentemente de desígnio militar, serviria também a função de “projetar”, num plano puramente simbólico, o domínio senhorial sobre toda a região.

À semelhança de muitos mosteiros da época, o complexo de Salvador de Travanca foi abandonado em 1834, pela Ordem Beneditina, na sequência de políticas liberais do Marquês de Pombal, que ditaram a extinção das ordens monásticas. Anteriormente, o mosteiro teria vivido outro período de decadência, em finais do século XV, quando monges comendatários substituíram os abades eleitos pela comunidade.

Votado ao abandono e à consequente profunda degradação – em que “nem as telhas escaparam”, segundo relatos da época – só começaria a recuperar em finais dos anos 30, graças a uma intervenção da então Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Com as obras concluídas em 1939, o amplo complexo arquitetónico assumiria, então, novas funções, nomeadamente como dependência hospitalar, que ali funcionou durante 50 anos. Adicionalmente, serviu a comunidade local como cadeia e escola, onde muitos dos habitantes de Travanca aprenderam a ler e a escrever.

Localização com oferta acrescida

O Mosteiro de S. Salvador de Travanca situa-se na freguesia do mesmo nome, revelando-se como fator de atração para visitantes a sua proximidade à cidade do Porto, com as ligações proporcionadas pela Linha do Douro, através das estações de Vila Meã e de Caíde de Rei; mas também as que são permitidas pelas auto-estradas A4 e A11, esta com ligações ao Minho e à Galiza.

A uma visita ao Mosteiro de Travanca pode ser acrescentada uma outra, no interior da freguesia: à Casa-Museu Acácio Lino, com portas abertas desde 2007 para visitas guiadas à casa, jardins e ateliê do artista; para a realização de workshops e para receber turistas que privilegiam o contacto com a arte e a cultura.

As ligações de Agustina Bessa Luís a Travanca e ao próprio Mosteiro foram objeto de um programa organizado pela Stay to Talk, Instituto de Imersão Cultural, que se constitui como um roteiro dos lugares da escritora e que é um dos principais produtos turísticos daquela operadora para a região, feito em parceria com a Rota do Românico. O roteiro tem a duração de um dia e chama-se “A história de uma ficção controlada”.

Já agora, se se interessa por festas populares, saiba que o orago de Travanca é o Divino Salvador, com celebração a preceito no primeiro domingo de agosto. No S. Miguel, a freguesia organiza a Festa das Colheitas, na qual a população mostra o que a terra deu e vende, muitas vezes por arrematação, produtos do campo.

Amadeo logo ali

Ao lado de Travanca, fica Mancelos, freguesia em cujo lugar, Manhufe, nasceu Amadeo de Souza-Cardoso, que tem, na cidade de Amarante, um Museu com o seu nome. A sua coleção permanente inclui, em sala própria, diversas obras de Amadeo.

A Stay to Talk tem, em torno de Amadeo, duas propostas para os turistas e visitantes:

1) “A tela e eu em casa de Amadeo”. Trata-se de um workshop de pintura que os visitantes são convidados a fazer no ateliê que foi de Amadeo de Souza- Cardoso. O Workshop inclui uma visita à Cozinha da Casa de Manhufe, que Amadeo retratou numa das suas mais célebres obras (“A cosinha de Manhufe”).

2) “City Break Amadeo e o parto da viola” é uma proposta para se conhecerem as lendas e tradições de Manhufe e Mancelos; saborear as suas iguarias; colocar as mãos na madeira e perceber como se constrói a viola amarantina.

Mancelos convida, também, a uma visita à sua igreja românica. No cemitério, mesmo ao lado, está sepultado Amadeo de Souza-Cardoso.

Se à História e à Cultura quiser juntar uma experiência enoturística, pode fazê-la na Quinta de Carapeços e na  Casa de Cello (Quinta de SanJoane), que são exemplos do que de melhor se faz no setor dos vinhos em Amarante.

Na Quinta de Carapeços conjuga-se tradição e modernidade,  sempre com respeito pelo que a natureza oferece. No início do seculo XVII, a propriedade pertencia ao Mosteiro de São Salvador de Travanca, sendo dele “desanexada” em 1834 com a extinção das Ordens Religiosas. A Quinta produz vinhos Brancos, Rosés, Tintos, Espumantes e Colheita Tardia de altíssima qualidade. Com contacto prévio, é possível agendar uma sessão de provas.

Com vinificação feita exclusivamente a partir das uvas que produz (e fazendo jus do seu estatuto de “produtor independente”), a Casa de Cello promove visitas à Quinta de Sanjoane, seguidas de provas, também com marcação prévia.

E pronto. Logo que lhe seja possível faça uma imersão na História e no Património de Amarante. Começar pelo Mosteiro de Travanca e desfrutar também da sua envolvente, vai ver que é uma ótima sugestão. Seja bem-vinda/o!

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