Faça Enoturismo em Amarante!
Nicolau Ribeiro
A data era acertada com bastante antecedência. Para um dia de domingo, quase sempre nos fins de julho ou no início de agosto, marcava-se um jogo da malha, a que compareciam os lavradores da freguesia que costumavam trocar braços. E ali, no terreiro, à beira do canastro, por entre um trago e uma bucha, programavam-se as vindimas de cada um, dando-se prioridade àquelas cujas uvas apresentassem maior maturação. Primeiro, ir-se-iam colher as brancas e, depois, as tintas.
O trabalho ocupava por inteiro o mês de setembro e entrava por outubro. No dia marcado, em cada quinta, ainda o sol não nascera e já todos haviam comparecido. Cada lavrador trouxera filhos, um ou outro criado, mas ninguém vinha à jorna.
De véspera, tudo havia ficado preparado. As escadas de madeira, já botadas nas ramadas ou nos bardos que ladeavam os campos, seguras nos choupos ou nos lódãos; as cestas e os cestos vindimos, colocados a espaços pelos campos, à espera de serem cheios; o lagar lavado e seco; as juntas de bois a postos para o transporte… E na cozinha, as mulheres da casa haviam também feito os preparos para o almoço e a ceia, que uma vindima dura até o sol se pôr. E havia a sova, logo de caminho.
No dia seguinte, já a lagarada tinha assentado, antes que fervesse provava-se o vinho doce e dava-se graças ao criador. Depois da poda, em dezembro e janeiro, das sulfatações e das geadas, das incertezas de chuvadas que trazem doenças, eis o fruto de muitas canseiras e ansiedade. Em breve estará nas pipas e apenas será provado pelo S. Martinho.
Os rituais das vindimas mudaram, as vinhas já não são de bordadura, há novas castas e formas de plantio; introduziram-se técnicas modernas de produção, vinificação e engarrafamento, mas a aura das vindimas mantém-se e o fim do verão e o início de outono ainda têm, nas quintas da sub-região de Amarante, a magia de outros tempos.
Se é especialmente sensível a reminiscências do passado, se está de férias e pretende entrar no (nosso) roteiro do vinho, se quer conhecer os sabores vínicos de Amarante, se, em suma, se deixa motivar pelo Enoturismo, eis algumas sugestões que lhe preparámos.
“A importância que, em Amarante, damos ao vinho verde está patente no UVVA (Universo do Vinho Verde Amarante), evento que o Município organiza, anualmente, desde 2016, nos claustros do edifício dos Paços do Concelho e do Museu Amadeo de Souza-Cardoso. Ali, os visitantes têm ao seu dispor provas variadas e comentadas, podem assistir a palestras, participar em workshops e showcookings. Por causa da pandemia do Covid-19, este ano (2020), o mês de junho não trouxe o UVVA, que regressará em 2021″.
_ Talvez não saiba, mas o Hotel Monverde, com localização na Quinta de Sanguinhedo, em Telões, é o primeiro hotel vínico da Região dos Vinhos Verdes e, este ano (2020), foi eleito pela Publituris, pela segunda vez consecutiva, o melhor Wine Hotel português.
No Monverde pode-se participar numa vindima, cada cliente pode produzir o seu próprio vinho, fazer provas, e o hotel oferece também o seu Wine Experience Spa, onde é possível desfrutar de diversas vinoterapias.
Entre a oferta de alojamento do Monverde destacam-se 10 Wine Experience Suites, cada uma com a sua enoteca.
_ A Casa da Calçada – integrada na rede Relais Chateaux e que no primeiro terço do século passado fora morada de António Lago Cerqueira, ele próprio produtor vitivinícola e introdutor de conceitos inovadores no setor, depois de estudos feitos em França -, também oferece provas de vinhos verdes aos seus clientes, tendo mesmo um pacote de alojamento que já inclui provas para os hóspedes.
A Quinta da Calçada (Calçada Wines), com mais de cinquenta hectares, produz vinho desde 1917. O seu portefólio inclui várias marcas, com destaque para a “Quinta da Calçada”, “Portal da Calçada”, “Lago Cerqueira” e “Vinhas Velhas”.
_A Casa de Cello, em Mancelos, freguesia de Amarante, fez, a partir do final dos anos noventa do século XX, uma completa reestruturação dos 14 hectares da sua Quinta de Sanjoane, onde introduziu castas como o Arinto, Alvarinho, Malvazia Fina, Loureiro, Avesso e Trajadura, na origem das quais estão os seus Quinta de Sanjoanne Terroir Mineral; Quinta de Sanjoanne Alvarinho; Quinta de Sanjoanne Escolha; Quinta de Sanjoanne Superior e os espumantes Quinta de Sanjoanne Bruto e Doce Natural Sanjoanne Passi.
A Casa de Cello é o exemplo do que de melhor se faz no setor dos vinhos em Amarante, tendo alguns dos que produz pontuados com excelência por críticos e revistas da especialidade, como é o caso da revista Grandes Escolhas, que classificou vários dos vinhos da Quinta de Sanjoane com 18 pontos em 20 possíveis.
Com vinificação feita exclusivamente a partir das uvas que produz (e fazendo jus do seu estatuto de “produtor independente”), a Casa de Cello promove visitas à Quinta de Sanjoane, seguidas de provas, com marcação prévia.
Outras opções são, por exemplo, as Quintas de Vila Garcia e Quinta de Silvoso, com visitas às vinhas e adegas, com provas, por marcação.
A Inside Experiences, um operador turístico local, tem no seu portefólio de experiências uma visita guiada a uma quinta produtora de vinho verde, com provas e almoço regional.
“(…) uma incursão, conjugada, pelos verdes de Amarante e os maduros do Douro pode significar participar numa das melhores rotas de Enoturismo de Portugal”.
_ Em Amarante cidade, monumental e histórica, o enoturismo materializa-se nas tasquinhas e bares. Comecemos pela Casa Herédio, paredes meias com a Igreja do Convento de S. Gonçalo. Trata-se de um neófito wine bar da cidade, com uma excelente garrafeira de verdes e serviço a copo, para os brancos, e em tigela, para os tintos.
Se a oferta de vinhos inclui o que de melhor Amarante produz, excelentes são também os queijos (10 variedades) e as tapas, diversificadas, que se fazem acompanhar de cebola rachada com sal e de broa de milho. Imperdíveis, mesmo, são as sandes de leitão (bísaro) em trigo de cantos, numa parceria da Casa Herédio com o restaurante “Filhos de Moura”. Os queijos resultam de outra parceria, com a “Boutique dos Queijos”; e a broa vai aquele wine bar buscá-la à Padaria Quesada.
_ Na rua 31 de janeiro são várias as tasquinhas que vendem vinho a copo, à caneca e à tigela, que fazem acompanhar por sandes de presunto e tapas. A mais antiga e conhecida dá pelo nome de Killowat e é procurada por todo o tipo de clientes, dos anónimos aos mais notáveis, que, frequentemente, ali deixam o testemunho da sua passagem por aquele espaço. Foi o caso, entre muitos, de Pierce Brosnan, ator e produtor irlandês, que, no cinema, interpretou o papel de James Bond em quatro filmes da série do agente 007.
A loja da Dolmen, em Amarante – que tanto pode ser um ponto de partida como de chegada para (de) uma visita à região do Douro Verde -, comercializa produtos tradicionais, entre os quais vinho verde, com origem em quintas dos concelhos que cobre. O Douro Verde estende-se até Resende e Baião, cujos territórios, a este, fazem fronteira com a Região Demarcada do Douro, onde pontificam os maduros e se produz o vinho do Porto. Uma incursão, conjugada, pelos verdes de Amarante e os maduros do Douro pode significar participar numa das melhores rotas de Enoturismo de Portugal.
A importância que, em Amarante, damos ao vinho verde está patente no UVVA (Universo do Vinho Verde Amarante), evento que o Município organiza, anualmente, desde 2016, nos claustros do edifício dos Paços do Concelho e do Museu Amadeo de Souza-Cardoso. Ali, os visitantes têm ao seu dispor provas variadas e comentadas, podem assistir a palestras, participar em workshops e showcookings. Por causa da pandemia do Covid-19, este ano (2020), o mês de junho não trouxe o UVVA, que regressará em 2021.
E pronto. O convite que lhe fazemos é que conheça e desfrute de um dos produtos mais genuínos que, em Amarante, temos para lhe oferecer e que é um dos mais valiosos da nossa oferta turística. Gostávamos de o(a) ver por cá. Faça Enoturismo em Amarante!