Amarante: caminhar na Natureza

Nicolau Ribeiro

Em Amarante, os ciclos da Natureza são bem vincados: primaveras de temperaturas amenas, águas límpidas e paisagens marcadas de tons de verde, que, em alguns pontos do território, como no Marão, entre abril e maio, se pintam de amarelo e rosa de carqueja e urze; verões quentes e secos e outonos temperados, multicolores, com odores de mosto e manhãs de geada; e invernos frios, de neve, às vezes, nas cotas mais baixas, e visita assídua na meia encosta e nos picos das serras do Marão e Aboboreira.

Caminhar na Natureza, em Amarante, é sempre, seja qual for a época do ano, um desafio. Livremente, ao sabor do improviso, sem percursos definidos, ou escolhendo rotas homologadas. Há várias e com graus de dificuldade diversos. Para serem percorridas de uma só vez, por etapas ou andando em ritmo de trail. Em qualquer delas, desfrutando da paisagem, de florestas autóctones, da história dos sítios e de património construído.

A mais recente que o Município oferece é a PR 6, também designada por Rota do Rio Marão. Foi desenhada pelo Conselho Diretivo do Baldio de Ansiães (CDBA), tem 14,3 quilómetros e é considerada de dificuldade média. Em preparação, o CDBA tem a GR 1 (GR significa Grande Rota) que terá 34 quilómetros e o seu traçado incluirá a maioria dos mais icónicos pontos do Marão, Senhora da Serra incluída.

Mas voltemos à PR 6. O nosso conselho é que, mesmo estando no Outono, quando as temperaturas descem mas os dias ainda trazem algum calor, a faça logo pela manhã. Vamos a isso. A Rota tem início no Largo da Pinha, em Ansiães, à cota dos 400 metros, em direção ao Caminho de Santo António (vai passar pela capela). Em breve, estará no Largo da Cal e aqui vai ter que decidir que direção tomar, já que a PR 6 tem um percurso circular (começa e acaba no mesmo local).

A nossa sugestão é que opte pelo “sentido 1”. Vai atravessar os lugares de Eido, Peso e Coval, tomando, depois, a direção do Posto Aquícola do Torno, vulgarmente conhecido como “Viveiro das Trutas”. Aqui chegada(o) – terá percorrido à volta de 2,5 quilómetros -, pode aproveitar para fazer a sua primeira pausa e, até, espreitar os tanques onde é feita a desova e crescem os alevins, até se transformarem em trutas adultas que hão de repovoar os rios do norte do país, entre os quais o Paiva, o Olo ou o Ovil.

O Posto Aquícola do Torno foi criado em 1942 e, desde então, tem cumprido a sua missão, com exceção de um curto período de tempo que se seguiu ao “grande incêndio” de 1985, que dizimou muitos hectares da serra e lhe matou quase todas as trutas.

Pés a caminho, tem pela frente à volta de quatro quilómetros até chegar às Minas de Ramalhoso, inativas desde o final dos anos 60, mas onde durante mais de duas décadas se explorou estanho e volfrâmio. O percurso é feito por uma levada paralela ao rio Ramalhoso e a sua existência tem a ver com o seguinte. Para evitar, no inverno, as escorrências da zona das antigas minas (que drenam para o leito do rio e que contêm arsénico) é pela levada, e não pelo rio, que desce a água que vai abastecer o Viveiro das Trutas e que é “captada” num açude existente a montante do que foi o complexo mineiro. Das minas, podem ainda ver-se as ruínas de alguns edifícios e uma “boca” (entrada) que leva às entranhas da serra.

“(…) há muitos apreciadores de produtos naturais e biológicos que não dispensam um chá de carqueja. Os que o consomem garantem que possui vários benefícios para a saúde, com efeitos na regulação da pressão arterial e da quantidade de açúcar no sangue, no fortalecimento do sistema imunológico e no combate a problemas digestivos. Pode ser consumido até três vezes por dia”!

A próxima etapa vai levá-la(o) à Casa do Guarda do Alto de Espinho (já lhe falaremos dela) com o percurso a ser feito por caminho florestal panorâmico. Estará a andar à cota dos 900 metros (o ponto mais alto da serra atinge 1415 metros) e as vistas são largas, com o IP 4 (Itinerário Principal 4) em fundo, de onde sobem encostas que levam à Sra. de Moreira e à Pousada do Marão. Na primavera, aquelas encostas cobrem-se de carqueja e urze, vestindo a serra de amarelo e rosa, numa combinação que deslumbra e que só a Natureza consegue fazer.

A propósito, há muitos apreciadores de produtos naturais e biológicos que não dispensam um chá de carqueja. Os que o consomem garantem que possui vários benefícios para a saúde, com efeitos na regulação da pressão arterial e da quantidade de açúcar no sangue, no fortalecimento do sistema imunológico e no combate a problemas digestivos. Pode ser consumido até três vezes por dia!

Com a chegada à Casa do Guarda do Alto de Espinho, terá cumprido já cerca de dois terços dos 14,3 quilómetros da PR 6. Faça nova pausa e aproveite para beber da água fria que jorra da nascente. O edifício, com mais de cem anos, terá sido construído por volta de 1919, no âmbito da florestação da serra, e julga-se que possa ter sido a primeira sede dos Serviços Florestais do Marão.

A partir daqui, a PR 6 é feita a descer. Atravessada a estrada nacional 15, vai entrar numa floresta centenária de coníferas que o incêndio de 1985 ladeou, mas decidiu poupar. Até chegar a Ansiães, o percurso é feito, quase todo, lado a lado com o Rio Marão, em boa parte por um caminho medieval que terá servido a povos da região para transporem a serra. No seu percurso, vai cruzar-se com o “túnel do Marão” (o maior da Península Ibérica, com 5,6 quilómetros), com casas rurais e palheiros e com a ponte de “Val de Baralha”.

Ansiães à vista, em breve atingirá o ponto de partida (que é também de chegada). Terão passado quatro a quatro horas e meia e é natural que as suas pernas acusem alguma fadiga. Pode recarregar energias num dos dois cafés próximos do Largo da Pinha, que servem sandes ou refeições ligeiras e vendem produtos com origem na serra, como o mel.

Cansada(o), mas de mente revigorada – acreditamos – é quase certo que voltará. Não deixe, contudo, de conhecer outras ofertas de rotas que Amarante desenhou.

Nota: A PR6 oferece muitos motivos para se fazerem boas fotografias. Use o seu telemóvel ou leve uma máquina fotográfica. Dependendo da época do ano, pode, até, fazer observação de aves, para o que convém munir-se de uma teleobjetiva ou de um binóculo.

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Outras Rotas

PR1. A Pequena Rota número 1, vulgarmente conhecida como Rota do Marancinho, tem partida e chegada na Igreja do Mosteiro de Gondar. De grau de dificuldade “fácil”, desenvolve-se por um percurso de seis quilómetros, onde se inclui um troço da estrada romana e do Caminho de Santiago.

PR2. A Pequena Rota número 2 tem partida e chegada no lugar de Rua (Aboadela) e uma extensão de 12 quilómetros. De grau de dificuldade “moderado”, o percurso inclui passagens pelo “Picoto” (ponto mais alto do Marancinho, com marco geodésico), pela Estalagem de Olo (um edifício do século XVIII integrado na rota do comércio com Vila Real e Trás-os-Montes) e pela Capela de S. Bento, onde se chega depois de uma subida íngreme pela montanha. As vistas são deslumbrantes.

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